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MYMBA`I, pedindo licença aos Espíritos, dialogando com a Mata Atlântica

Painel Exposição Mymba

Mymba`i, palavra sagrada em Guarani, pode ser compreendida como um pedido de licença aos seres ancestrais e espíritos dos animais que cuidam de todos os seres das florestas.

A exposição propõe pensarmos sobre os impactos destrutivos das ações humanas, assim como a urgência no cuidado e recuperação da Mãe e irmã Natureza. É um chamado para conhecermos e aprendermos com os povos indígenas originários. É ouvir, sentir, respeitar, dialogar e cuidar para construirmos uma história de recuperação e fortalecimento de nossas memórias ancestrais, da Mãe irmã Natureza.

Aqui apresentamos animais (aves, mamíferos, répteis, anfíbios, peixes e invertebrados) que trazem em seus corpos os impactos da violência humana, além de vegetais e minerais da Mata Atlântica, em extinção e em risco de extinção.

A criação dos animais foi realizada em oficina, parte da intervenção artística Mymba`i, concebida e realizada pela indígena artista Tamikuã Txihi, utilizando técnica mista de desenho, pintura em acrílico e colagem sobre papelão recortado.

Participaram da oficina os indígenas: Jaxuká Mirim (Irene Mendonça), do povo Guarani Nhandewa; Kitche-rã (Susilene Elias de Melo), do povo Kaingang; Jaxuká Endy (Leonice de Quadro), do povo Guarani Mbya; Jaxuká Mirim (Jacileide Martins), do povo Guarani Mbya; e Awa Djerowewedju: (Elizeu Caetano), do povo Tupi Guarani Nhandewa.

Sobre a Onça

A onça pintada é um símbolo muito forte da luta dos povos indígenas originários de Abya Yala. É uma irmã que luta ao nosso lado e que nos ensina o caminho da resistência e sobrevivência. Ela está presente na história, memória e narrativa da cosmovisão de diferentes povos indígenas originários de Abya Yala. 

A relação da indígena artista Tamikuã Txihi com a onça vem desde o seu nascimento. Tamikuã cresceu ouvindo e aprendendo, com sua Avó e Mãe, histórias e memórias de sabedoria e força da onça. Sua mãe se pintava de onça toda vez que nascia uma criança e na festa do Sol, importante rito do povo Pataxó. A pintura sagrada traz a força e a proteção da onça que ensina a ter paciência, agilidade, visão, coragem, concentração e sabedoria. 

Na arte, Tamikuã Txihi tem a onça como um símbolo de inspiração, luta e resistência pela vida. Para a indígena artista, a onça representa força, sabedoria, agilidade e habilidade. É a líder espiritual das floresta e rios, é quem guia o povo.

De acordo com o povo Pataxó, a onça já viveu em outro mundo que não era esse. Ela era um ser de formas diferentes das onças desse novo mundo de hoje.

Na criação do novo mundo, a onça ficou responsável pelo cuidar de todos os seres. Assim seguia observando a Terra, falando com as Estrelas, a lua e o sol. 

Foi nesse cuidar que, em uma noite escura a onça, que tinha uma visão forte, percebeu que algo estava fora do lugar.

Contam os mais velhos que de tanto a Terra ser cortada pela humanidade, essa começou a estremecer, fazendo com que a verdadeira onça, resolvesse descer para ver o que acontecia. Ao descer para a Terra, a onça nunca mais conseguiu retornar ao mundo de cima, se tornando a pajé das matas e líder espiritual.

Hoje, a onça é símbolo de força, sabedoria, habilidade e agilidade, a protetora e pajé das matas, vivendo entre o mundo de cima, de meio e do fundo. Sua força que vem do alto lhe deu a habilidade de escalar os topos das árvores. Sua força do meio, a grande agilidade de correr e enxergar no escuro. Sua força do mundo do fundo lhe liga fortemente às águas, lhe dando a habilidade de nadar.

Nas noites de Lua cheia, a onça dialoga com a Lua, que é uma antiga anciã, transmitindo seus saberes e conhecimentos, trazendo a luz como guardiã da verdadeira história e memória, em conexão com o universo.

Essa é a história da onça sagrada, símbolo de força e resistência que inspira e guia a arte e vida da indígena artista Tamikuã Txihi Pataxó.

Ninmangwá Djagwareté _ Brincadeira da Onça

A brincadeira da onça mostra a dimensão lúdica de nossos povos indígenas de Abya Yala (América). Esta brincadeira é parte, também, da cultura do povo Guarani. Traz a importância de incorporar cultura, irmã natureza, história e memória e contribui para a Educação Cultural, maior desenvoltura e agilidade ao tomar decisões, aumento da disciplina e da velocidade de pensamento. Ajuda a lidar com sentimento de perda e ganho, desenvolve criatividade, favorece a capacidade de resolução de problemas e une as pessoas.

A brincadeira se dá sobre um tabuleiro e contém 15 peças. Uma peça representa a Onça e as outras 14 os Cachorros. A onça tem que capturar cinco ou seis Cachorros ou os cachorros têm que imobilizar a Onça para finalizar a partida.

Dois brincantes participam da brincadeira por vez. Esses escolhem quem vai ser a onça e quem vai representar os 14 cachorros. A Onça começa. Os animais, tanto a Onça quanto os Cachorros, podem andar para uma casa vizinha vazia por vez, em qualquer direção: horizontal, vertical e diagonal. A onça ganha se conseguir “comer” cinco cachorros. Os cachorros não podem “comer” a onça e, para vencerem a brincadeira, têm que se unir para encurralá-la não deixando que ela se mova.

Mata Atlântica

Na concepção dos povos indígenas originários de Abya Yala, a natureza é nossa mãe e irmã. O nome que agora se dá a esta parte da irmã natureza é Mata Atlântica, uma das regiões mais ricas do mundo em biodiversidade, onde vive cerca de 70% da população brasileira. Esse bioma possui imenso valor histórico-cultural, SENTIMENTAL, abrigando vários povos indígenas carregados de memórias, história e saberes ancestrais.

De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO, 2021), o território da MAE IRMà Mata Atlântica se estende por uma região habitada por pelo menos de 20 mil espécies vegetais, 850 espécies de aves, 350 peixes, 340 de anfíbios 270 mamíferos e 200 de répteis, além de animais invertebrados e insetos. Dos 633 animais ameaçados de extinção no Brasil, 383 vivem na Mata Atlântica (Ibama/2022).

Estima-se que em 1500, a Mata Atlântica cobria aproximadamente 15% do território dos POVOS ORIGINARIOS DE PINDORAMA, ocupando uma área equivalente a 1.296.446 km2. Sua região de ocorrência original abrangia, integral ou parcialmente, 17 dos hoje chamados Estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe. Atualmente, o bioma cobre em torno de 12% da área original de Pindorama/Brasil (IBF, 2022).

Essa realidade alarmante justifica a urgência e a necessidade em dialogar e assegurar, o COMPROMISSO com a conservação e a recuperação da IRMÃ floresta. Sob essa perspectiva nasce “MYMBA`I: pedindo licença aos Espíritos, dialogando com a Mata Atlântica”, uma convocação à sociedade a uma tomada de consciência efetiva e ativa na luta pela vida dos seres da Mata Atlântica, Mãe e Irmã Natureza.

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