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Povos Indígenas no Brasil, uma pesquisa permanente

Desde a criação do Museu das Culturas Indígenas, a gestão compartilhada realizada pela ACAM Portinari, Instituto Maracá e Conselho Aty Mirim incentiva a integração entre os núcleos de trabalho do Museu a partir de suas diversas ações, a fim de fortalecer narrativas que recontem histórias para o público a partir das perspectivas indígenas.

Neste processo de criação de um território educativo intercultural, os Mestres de Saberes e estagiários indígenas dialogam com o público que visitam o Museu e suas exposições. As questões trazidas por crianças, jovens e adultos, das mais diversas formações, refletem de forma geral a relação da sociedade nacional com os povos originários, a partir de um imaginário historicamente construído sobre o que é ser indígena – que é preciso ser revisto.

Diariamente, a identidade indígena é questionada quando associada ao contexto urbano, ao uso de roupas, à língua portuguesa, ao uso de celulares ou mesmo ao envolvimento em instituições como o Museu. Noções ultrapassadas ainda hoje presentes — de que os indígenas só o são se identificados pela alteridade da forma como viviam seus ancestrais à época em que os colonizadores europeus aqui chegaram, há cinco séculos — desconsideram todo o processo de resistência e persistência dos povos que se mantém vivos até hoje, diante das transformações culturais provocadas pela colonização, carregando até hoje suas identidades, memórias, histórias e a consciência pela luta de direitos.

Em percurso expositivo orientado pelo Conselho Aty Mirim, o Museu das Culturas Indígenas, em suas primeiras exposições, deu visibilidade aos povos indígenas que residem e resistem no Estado de São Paulo, assim como deu destaque ao bioma que ocupa toda a região sudeste, Nhe´ery, Mata Atlântica, suprimida ao longo da ocupação colonial, mas que orienta o modo de vida desses povos até os dias de hoje, baseado na cosmologia.

Atualmente, há quatro exposições em cartaz no MCI: Hendu Porã’rã, escutar com o corpo, que apresenta elementos fundamentais da cultura Guarani; Nhe’ery, onde banham os espíritos, que versa sobre a importância da Mata Atlântica nas formas de ser e viver indígenas; Mymba´i, pedindo licença aos espíritos, que denuncia a arrogância e a violência humana na extinção de animais da floresta; e a Ocupação Decoloniza – SP Terra Indígena, que relembra que os primeiros habitantes dessa terra estavam aqui muito antes do colonizador chegar.

Para responder às questões trazidas pelo público sobre o contexto geral dos povos indígenas no Brasil, o MCI deu início ao processo de criação da exposição “Indígenas no Brasil”, título provisório. Para isso, incentivou uma ação articulada entre o Centro de Pesquisa e Referência (CPR) e os núcleos Educativo, Expositivo e Formativo para inaugurar um processo de pesquisa junto aos educadores indígenas de modo que tragam suas experiências, interesses e conhecimentos para contornar o que pode vir a ser uma exposição que nunca vai se esgotar em si, mas que traga reflexões pertinentes ao público para as transformações necessárias na abordagem sobre o que é ser indígena. Uma oportunidade de pesquisa e formação na relação com a prática educativa do Museu, envolvendo quem está na linha de frente deste diálogo a fim de diversificar e aprofundar conhecimentos sobre essa rica diversidade sociocultural.

O Centro de Pesquisa e Referência organizou um roteiro geral sobre os povos indígenas no Brasil para dar início às conversas com os educadores/pesquisadores a partir de grandes temáticas como quem são, onde estão, quantos são, quantas línguas, terras indígenas, assim como suas especificidades culturais, indígenas em contexto urbano, povos emergentes e povos indígenas isolados.

Os próprios encontros vão redefinindo os caminhos da pesquisa a partir das conversas e interesses do grupo sobre o que é prioridade trazer como informação e reflexão para a orientação do público do Museu, processo sempre associado à educação e formação intercultural em via de mão dupla.

O grupo se dividiu em duplas, cada dupla responsável por um bioma – ponto de partida para refletir noções de fronteiras e comunicação. O grupo colocou que não existe uma fronteira que define a mudança entre biomas, pois eles se intercomunicam por baixo da terra (rizomas) e acima dela (rios voadores), da mesma forma que as fronteiras entre povos indígenas, em vez de impedir e cercear o acesso, eram locais/meios de comunicação e trocas culturais, seja para encontros ou para guerras. A noção de território, portanto, é uma reflexão que o grupo quer trazer para o projeto conceitual da exposição, assim como a noção de identidade.

Quem pode dizer quem eu sou e a que povo pertenço? Como se dá esse processo de autoidentificação e autodeterminação? Discutiu-se também a autodenominação e significados nas perspectivas de seus povos. Eu sou Guarani (falo com o coração), sou Yanomami (a verdadeira humanidade), sou Awe Uptabi (o povo verdadeiro, autêntico, gente de verdade), sou Yudjá (o povo navegador), formas de se reconhecer a partir da própria humanidade na relação com o mundo e com suas alteridades. Eu sou Mebengokre (homens do lugar da água) e não Kayapó (semelhantes aos macacos), como são chamados pelos não indígenas.

O grupo tem conversado sobre a importância de a exposição trazer dados e informações gerais sobre o número de povos, línguas e terras indígenas, assim como algumas especificidades sobre os modos de vida de diferentes povos em diferentes biomas no que diz respeito ao jeito de ensinar, cuidar e fazer as coisas, para a afirmar a importância de garantir a demarcação de terras como direito constitucional. Será importante apresentar a presença indígena no Brasil a partir de estudos arqueológicos e fazer uma conexão com a arte de viver desses povos em tempos atuais.

O tema “Indígenas no Brasil”, além de se tornar exposição – cuja proposta é dinamizar as temáticas por meio de ativações realizadas pela programação com diferentes povos ao longo de sua duração -, também se tornará uma linha de pesquisa contínua do Centro de Pesquisa e Referência do Museu das Culturas Indígenas.

Fiquem atentos para a leitura, contribuições e compartilhamentos da Política de Acervo do MCI.


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