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BOLETIM 08 – Elaboração de roteiros para mediação cultural: uma experiência coletiva

A mediação cultural para grupos de crianças traz a necessidade de atendimento a diferentes faixas etárias. Diante desse desafio, a equipe de mestres de Saberes do Museu das Culturas Indígenas trabalhou na elaboração e experimentação de roteiros temáticos.
A elaboração dos roteiros se deu de forma coletiva e colaborativa, em três encontros, de 3 horas cada. A equipe se reuniu em trios e cada trio elaborou um roteiro para mediação de uma das exposições em cartaz no museu, tendo como desafio incluir uma atividade de prática artística. A intenção era que os roteiros pudessem ser utilizados durante o atendimento ao Programa Recreio nas Férias, da Secretaria Municipal de Educação, que aconteceu no mês de janeiro de 2025.


No primeiro encontro foi abordando a teoria e a prática da “Abordagem Triangular”, proposta pedagógica para ensino-aprendizagem em artes, sistematizada por Ana Mae Barbosa, amplamente difundida e utilizada para criação de mediações culturais. Realizamos a leitura e releitura da obra “Guernica”, de Pablo Picasso. Foi proposto à equipe que fizesse releituras da obra observada transpondo para o universo dos povos indígenas.

O segundo encontro foi dedicado ao estudo de cantos e danças indígenas, em que os mestres de saberes Guarani apresentaram passos da dança e músicas tradicionais do povo, abordando as diferenças de participação entre homens e mulheres: os passos são diferentes, bem como a utilização dos instrumentos musicais. Um estagiário apresentou um canto do povo Puri e contextualizou o uso do mesmo dentro de sua cultura. A prática possibilitou uma conversa reflexiva sobre como as danças e cantos podem demonstrar a diversidade cultural dos povos indígenas. A equipe pôde perceber que ao demonstrar as danças e cantos podemos compartilhar com os visitantes características culturais específicas de cada povo. 

No terceiro encontro foram criados e experimentados quatro roteiros. Desses, dois foram selecionados e reestruturados, são eles: “Caminhos da Floresta” e “Jogo dos Grafismos”. Selecionamos as faixas etárias que seriam atendidas por cada roteiro, bem como os materiais necessários para cada atividade e experimentamos ambos nas últimas visitas de 2024.

Cada roteiro contemplou uma faixa etária conforme descrito abaixo:

  • Caminhos da Floresta: 04 a 06 anos
  • Jogo dos Grafismos: 07 a 10 anos
  • 1. Roteiro Caminhos da Floresta

Neste roteiro, as crianças acessam a diversidade da fauna e da flora a partir da exposição “Nhe’ery: onde os espíritos se banham”. Aqui, os mestres de saberes destacam os conhecimentos que vêm da Mata Atlântica e dos povos que nela habitam, além de realçar a importância dos povos Krenak, Pataxó, Maxakali, Tupi Guarani e Guarani Mbya para a preservação dos biomas. 

Após esse momento, as crianças adentram a exposição “Ygapó: Terra Firme”, onde são convidadas a entoar um canto tradicional e também podem escutar o silêncio e tecer reflexões sobre o desmatamento e suas consequências para todos os seres vivos, trazendo a importância da preservação das matas e florestas.

Por fim, é realizado o plantio de feijão, para que as crianças possam se conectar à terra a partir do cultivo e exercer, simbolicamente, o compromisso de reflorestar. O plantio acontece em copinhos, possibilitando que cada criança leve o seu para casa. Esse momento é acompanhado pelas falas dos mestres sobre o cuidado com as sementes e o respeito aos seus tempos de germinação. 

As crianças se mantiveram empolgadas e reflexivas quanto aos cuidados com a terra e a natureza.

O roteiro “Caminhos da Floresta” ajuda o público infantil a entender a perda que está acontecendo mundialmente, como o desmatamento, poluição, corte ilegal de árvores, seca [..]. Para que eles possam compreender a importância da vida dos nossos biomas. [..] O roteiro “Caminhos da Floresta” propõe o acolhimento, mostrando que somos capazes de modificar os hábitos ruins.
Ediele Pankararu – Mestra de Saberes
  • 2. Roteiro Jogo dos Grafismos

Neste roteiro, os mestres de saberes possibilitam às crianças conhecerem um pouco sobre as diferenças culturais dos povos indígenas a partir do universo dos grafismos. As crianças são acolhidas no sétimo andar, onde após uma breve apresentação, recebem pinturas de grafismo corporal.

Na sequência, as crianças são estimuladas a observar os grafismos presentes nas paredes da sala, enquanto os mestres contextualizam as imagens através da contação da história de origem do povo Huni Kuin. Com isso, os mestres dialogam sobre os grafismos feitos na pele das crianças e ressaltam os simbolismos, as diferenças e conceitos de cada povo.

Para finalizar, a turma é dividida em pequenos grupos e todos observam esculturas guarani de animais feitas em madeira (macaco, coruja, tamanduá, tatu, etc). Cada grupo é responsável por escolher secretamente um detalhe de um dos animais e desenhar um grafismo autoral  a partir do detalhe observado.

A ideia é que as crianças percebam cada detalhe e sejam introduzidas ao processo de surgimento dos grafismos, que se baseia na observação. Por fim, cada grupo apresenta o seu desenho aos demais para que adivinhem qual animal serviu como inspiração. 

O roteiro se mostrou bastante eficiente para a faixa etária atendida, as crianças se mantiveram entretidas e curiosas durante toda a visita. Receber os grupos com a pintura corporal fez com que todos pudessem se aproximar da cultura de uma forma sensorial e simbólica, colaborando com a compreensão de que cada grafismo possui um significado por trás do desenho.

“É desde pequeno que a gente começa a aprender as coisas […]. Nossos pais e avós já ensinam essa forma de lidar com o planeta, com a própria terra e o modo de vida da pessoa. Então desde pequenininho, uns três ou quatro anos, é a idade de começar a aprender, para quando eles tiverem com a idade de doze, treze anos, eles já terem esse conhecimento do que é importante ou não para eles.”
Sônia Ara Mirim – Mestra de Saberes

Referências Bibliográficas
BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte: Anos 80 e novos tempos. São Paulo: Perspectiva, 1991.
BARBOSA, Ana Mae (Org.). A abordagem triangular no ensino das artes e culturas visuais. São Paulo: Cortez, 2012.

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